domingo, 18 de julho de 2010

Vik Muniz

Por Antony Franco (Artista Visual):


“Na arte a busca de externar o desejado é uma busca de conhecimento e imaginação.” (A.F)

Vik Muniz- um artista que prova e aprova a significância criativa da arte que constrói, revela as inúmeras alternativas para explorar o que pretende. São materiais do cotidiano utilizados a partir de um olhar artístico do artista, onde o observador é agente importantíssimo na concretização do trabalho, chega a revelar que qualquer um é capaz de fazer o que ele faz, pensei nisso por um instante, porém, ele próprio diz ter sido o único a fazer tudo isso na mesma ordem e proporção. Verdade!

"Eu acredito num projeto realista, no qual o ilusório caracteriza o real através de suas ferramentas e artifícios.” (Vik Muniz)



Reconhecido internacionalmente como o mais importante e valorizado artista plástico contemporâneo brasileiro, Vik Muniz se destaca também pela reflexão teórica que desenvolve sobre a fotografia, meio e suporte de seus trabalhos. Nascido em São Paulo em 1961, ele já declarou que demorou muitos anos para “fazer sucesso da noite para o dia”: iniciou a carreira na década de 1970, mudou-se para Nova York em 1983 – após levar um tiro acidental, num episódio que ganhou contornos de lenda - mas somente em 1995 atraiu a atenção da mídia, com a série Crianças de Açúcar. Hoje suas fotografias integram os acervos dos mais importantes museus do mundo, e sua última retrospectiva no Brasil – no MAM-RJ e no MASP, em 2009 - recebeu mais de 100 mil visitantes. São imagens que, construídas com materiais “pobres” e inusitados – chocolate, brinquedos, sucata, poeira – promovem uma revisão constante da História da Arte, de Dürer a Andy Warhol, provocando um estranhamento capaz de agradar aos mais diferentes olhares.

Che Guevara de feijão


Medusa Marinara, 1999

Retirado da coluna do site G1:

Você usa de maneira original diversos materiais e informações, mas ao mesmo tempo passa a ideia de um controle absoluto sobre o resultado. Num momento em que a técnica muitas vezes é posta em segundo plano, que importância você atribui ao domínio da linguagem, dos materiais e da expressão?
VIK: A técnica, o controle, já tiveram lugar mais importante no meu processo de trabalho. Depois de mais de 20 anos de carreira, eu vejo a coisa mais ou menos assim: quando o artista é jovem, ele possui uma necessidade imensa de mostrar para o mundo quem ele é, seu intelecto, sua cultura, criatividade, talento e destreza manual. O artista jovem quer mostrar ao mundo que, em meio a tantos outros artistas jovens, ele é o melhor, um candidato a um lugar de destaque na história e na memória popular. À medida que o tempo vai passando, e este artista jovem vai testando seus talentos com certo sucesso em meio a um publico especializado, ele começa a entender que mesmo um grande cérebro é sempre um grande “um”, e que o segredo da continuidade evolutiva de seu trabalho reside em uma aprendizagem fria e desapegada de como analisar a opinião publica. Para mim esse momento marca a minha maturidade intelectual; saber que estou sempre fazendo a metade do trabalho, e que o resto quem faz é o publico. Reconhecer isso requer uma certa humildade, que os jovens não possuem. A partir dai você começa escutar o mundo à sua volta, as conversas no quiosque, as crianças, seus assistentes, os colecionadores, os guardas do museu. Ao contrario de antes, o mundo passa a refletir o seu trabalho. Isso gera uma satisfação indescritível e uma responsabilidade avassaladora. É desse momento, quando qualquer pessoa pode entrar em seu estúdio e fazer algo que você faz, é dessa vulnerabilidade que eu tiro proveito para tecer conceitos mais sutis, mais independentes. Eu não consigo mais me enganar com a ideia que ninguém é capaz de fazer o que faço, mas sei ter sido o único capaz de ter feito o que fiz na mesma ordem e proporção.

Você se considera um artista pós-moderno, no sentido de realizar uma reciclagem de questões da História da Arte? Independente da resposta, o que significa para você o pós-modernismo? E o que pensa da tese do “fim da história da arte”?

VIK: Se todo mundo continuar querendo escrever o parágrafo final da História da arte, a gente ainda vai ter História por mais 5 mil anos. A História moderna foi criada com o objetivo de contextualizar o presente dentro de uma ordem pré-estabelecida de eventos, na qual o presente parecia mais ser uma conseqüência do futuro que do passado. A derrota das utopias e do pensamento idealista só implicam o fim de um tipo especifico de se apresentar a História. O presente intenso e multiplicado parece convergir diversos passados, sem nunca apontar para um futuro preciso. É impossível não se inspirar no caos temporal do mundo contemporâneo. Um mundo de memórias instantâneas, onde gerações diferentes escutam as mesmas playlists, curtem os mesmos filmes e leem os mesmos textos. A total disponibilidade da memória sensorial faz com que o passado seja uma parte constante do nosso presente. Nenhum projeto realista estaria completo sem dar uma atenção especial a essa confusão, a essa complexidade incrível de como o presente é continuamente permeado pelo passado no nosso dia-a-dia.

Abertura da novela Passione, 2010



Diamond Divas
Referencia:

Um comentário:

  1. Antony, é bom postar comentários críticos pessoais além da pesquisa.
    kasmin

    ResponderExcluir